A Caridade em Ação: Os Arquétipos de Cura

A Umbanda é frequentemente chamada de “grande pronto-socorro espiritual”. E quem são os médicos e enfermeiros nesse hospital da alma? Nossos guias. Cada linha de trabalho que se manifesta no terreiro é como uma especialidade médica, pronta para atender a um tipo diferente de dor. A diversidade das linhas de trabalho mostra que a caridade tem muitas faces, e a sabedoria divina organizou essas falanges para atender a todo tipo de necessidade humana.
- Pretos-Velhos: Eles são os psicólogos, os conselheiros. A caridade deles vem na forma de paciência, humildade, sabedoria e perdão. Com seu cachimbo de angola, suas rezas baixinho e seu jeito amoroso de “fio” e “fia”, eles acalmam o coração mais aflito e limpam as feridas da alma. O arquétipo do Preto-Velho é a própria caridade em sua essência mais pura e humilde.
- Caboclos: A caridade dos Caboclos está na força, na retidão, na coragem. Eles chegam com seus brados, firmes no chão, para quebrar demandas, cortar magias, abrir nossos caminhos e nos dar a energia das matas para nos reerguermos. A caridade deles é nos levantar do chão e nos dar a coragem pra lutar nossas batalhas.
- Crianças (Erês): A caridade deles está na pureza, na sinceridade e na alegria. Com suas brincadeiras e seus doces, eles quebram a densidade do ambiente, renovam nossas esperanças e trabalham com uma magia elemental pura que cura e equilibra sem que a gente nem perceba. Eles nos lembram que a vida pode ser mais leve e que a fé pode ser alegre.
A Caridade que Ninguém Vê: O Trabalho da Esquerda
Muita gente ainda treme na base quando ouve falar de Exu e Pombagira. Acham que é “coisa do mal”. Isso é ignorância, falta de estudo. Na Umbanda, Exu e Pombagira são agentes da Lei e da Justiça Divina, e o trabalho deles é uma forma poderosa e essencial de caridade.
- Exu: Ele é nosso guardião, o sentinela que fica na porteira. A caridade de Exu é nos proteger, é cortar as magias negativas que nos mandam, é abrir nossos caminhos quando estão trancados. Ele é o “policial do astral”, que bota ordem no caos e freia os espíritos malfeitores que querem nos prejudicar. Ele não é o mal; ele combate o mal. Chamar Exu de demônio é um desrespeito profundo com quem mais nos protege, nosso amigo e compadre.
- Pombagira: Ela é a dona do desejo, da autoestima, da força feminina. A caridade dela é levantar a mulher (e o homem também) que está no chão, com o coração partido, se sentindo um lixo. Ela traz de volta a alegria de viver, o amor-próprio, a coragem de se impor. Ela é a psicóloga das dores do amor e das repressões, que nos ensina a nos amar antes de amar qualquer outra pessoa.
A caridade da Esquerda é a caridade da linha de frente, do trabalho pesado. Enquanto a Direita cura e aconselha, a Esquerda limpa o terreno, protege a porta e nos defende dos ataques. Sem essa caridade “suja”, feita no astral inferior, o trabalho da Direita nem conseguiria acontecer. É um trabalho de equilíbrio, fundamental para que o “pronto-socorro” possa funcionar com segurança.
O Médium: Canal da Caridade Divina
E o médium nessa história toda? Ele é a ferramenta, o “cavalo”, o “aparelho”. A mediunidade é o dom que Deus nos deu para que a gente pudesse servir de ponte para essa caridade espiritual se manifestar na Terra. É por isso que a Umbanda proíbe cobrar. O poder não é do médium, é do guia, que por sua vez é um servidor do Orixá. Cobrar seria se apropriar de um poder que não é nosso. Seria trair a confiança da espiritualidade e a própria essência da caridade. O terreiro se sustenta com a ajuda dos próprios médiuns, com eventos, com doações voluntárias, mas nunca com a cobrança pelo passe, pela consulta, pelo trabalho espiritual. Quem cobra por caridade não está fazendo Umbanda, está fazendo comércio com o sagrado, e isso é uma das condutas mais erradas que existem.
O ato de caridade é, em si, um sistema perfeito de circulação de energia. Quando um Preto-Velho dá um passe, ele não está só fazendo um gesto. Ele está transmutando as energias densas, “viciadas”, do consulente e canalizando “energias virtuosas” de paz e amor. Nesse processo, o consulente é aliviado. O guia, por sua vez, cumpre sua missão, evolui e resgata seus próprios débitos kármicos. E o médium, por se doar como canal para essa energia de alta vibração, também se limpa, se fortalece e avança na sua própria reforma íntima. É um ciclo perfeito em que todos ganham. A caridade é o motor que faz essa “economia” de energias positivas girar, beneficiando todos os envolvidos. A introdução do dinheiro (cobrança) quebraria todo o sistema, pois a energia do dinheiro é de outra natureza e criaria um curto-circuito nesse fluxo puramente espiritual.
Saravá, Axé, Mojubá!
Raphael PH. Alves
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